O texto abaixo foi retirado do site: https://saiotedechita.wixsite.com/republicafeminina/sobre-1-c1dgi

A história de Engenheiro Goulart

Para falar da origem do bairro de Engenheiro Goulart, faz-se necessário remontar uma breve história da cidade de São Paulo, mais especificamente, da trajetória de vida do maior rio do estado: Tietê.

O Rio Tietê, um dos símbolos da cidade, tem sua história intrinsecamente relacionada às atividades humanas desenvolvidas em seu entorno.

Primeiros moradores

Antes da chegada dos portugueses, as margens desse rio já eram habitadas pelos indígenas, como revela o geógrafo Aziz Ab'Saber (2004):

"Foi nas bandas dos terrações, próximo da linha dágua, que se estabeleceram as aldeias indígenas, vivendo na primeira terra firme e tendo água para banho, para cozinhar e para beber, peixe para pescar."

Tropeiros

Em 1681, São Paulo já então capital da capitania, torna-se importante centro de rotas comerciais. Na direção LESTE, margeando o rio, abria-se caminho para que os tropeiros chegassem ao Rio de Janeiro, e nesse percurso estabeleciam pontos de pouso para as tropas de burro.

Exploradores

Ainda no início do século XVII, descobriu-se ouro na várzea do Tietê, na região de Guarulhos, ou seja, mesma área de várzea de Engenheiro Goulart. O método utilizado para a extração consistia na lavagem direta dos cascalhos, através do desvio da drenagem da área a ser lavrada, com a construção de pequenos diques de cascalho e blocos.

Trabalhadores

Em 1711, com a chegada do café, São Paulo tem um significativo crescimento econômico, e a cidade passa por grandes transformações urbanas.

Entre 1867 e 1900, as várzeas começam a ser ocupadas pelas ferrovias, que trazem a instalação das primeiras indústrias que se beneficiavam dos transportes para o recebimento de matéria-prima e maquinários vindos de exterior. E, junto com o progresso, inicia-se o processo de degeneração do rio.

Nesse contexto, em 1926 é construída a estação de trem de Engenheiro Goulart, e com ela surgem loteamentos e construções das primeiras que dariam origem ao bairro do mesmo nome.

Meados do século XX, nas margens do rio, outras tantas atividades eram intensamente desenvolvidas na região, como descreve o antigo morador do bairro, Lúcio Bonato:


" (...) esta terra era usada para olarias. Tínhamos duas: uma só fabricava tijolos, o barro era amassado e preparado com a ajuda de animais de tração; depois de preparado e feito o tijolo, este ia para forno de lenha, a lenha vinha da plantação de eucaliptos plantados na própria região. A outra olaria tinha o mesmo tipo de atuação, porém fabricava outros utensílios de barro, como telhas e vasos, além dos tijolos. Desta olaria mais conhecida como "Cerâmica", temos ainda a chaminé, que fica perto da EACH-USP Leste, perto da Belgo Mineira. Outra atividade era a extração de areia, tínhamos três: O Porto do João Kumn, o Porto Ribeiro, com duas lagoas, e o Porto Langiani, com diversas lagoas. Essas lagoas, por causa das cheias do Tietê, se tornavam piscinas, o que era uma diversão para os moradores da região."

A várzea, por sua terra fértil, era repleta de pequenas chácaras de hortaliças, mandiocas e flores cultivadas especialmente por famílias de japoneses e portugueses.

O Bairro

Até a década de 1970, o cotidiano assemelhava-se à vida das pequenas cidades do interior, isto é, todos se conheciam e se nutriam das atividades culturais coletivas, como descreve Nelson Barboza Leite, nascido e crescido no bairro:

"(...) O cinema do Sr. Medeiros; o queridíssimo Zé Barbudo e o seu time de futebol feminino, na época uma ousadia!; as brigas de futebol; as festas juninas da Dona Nega, do Seu Pedrinho e da Dona Helga; as famosas procissões; as pescarias nas Lagoas do Ribeiro; o sítio do João Kun (atualmente, o Parque Ecológico do Tietê); o truco e baralho de todos os dias no salão do Sr. Leopoldo (meu querido e saudoso pai); a comida da Dona Tita; as preocupações do mano Sergio para manter os jogos e o time do União Vila Silvia..."

No início dos anos 1980, com o propósito de preservar o que ainda restava da várzea e conter as cheias da cidade, foi inaugurado o Parque Ecológico do Tietê, visando aproveitar a área para atividades de lazer, esporte, cultura e preservar

a fauna e flora. É considerada uma das grandes reservas ambientais do estado. Os projetos arquitetônicos foram confiados ao arquiteto Ruy Ohtake.

Em 2006, é inaugurado mais um campus da Universidade de São Paulo - Escola de Artes, Ciências e Humanidades, a USP-Leste - EACH.

Hoje, a região abriga também alguns centros de treinamento de times de futebol, como Corinthians e Portuguesa.

Vale lembrar Nóbrega, ressaltando a importância do rio:

"O Tietê deu a SP quanto possuía: o ouro das areias, a força das águas, a fertilidade das terras, a madeira das matas, os mitos do sertão. Despiu-se de todo encanto e de todo o mistério:

despoetizou-se e empobreceu por São Paulo e pelo Brasil."

O crescimento populacional das décadas seguintes e o descaso do poder público fizeram com que uma realidade cruel se abatesse nas regiões periféricas da cidade, sufocando e enfraquecendo as culturas locais existentes.

Hoje, vemos crescer um movimento de jovens artistas, poetas e pessoas interessadas no desenvolvimento cultural, despontando com muita força, lucidez e audácia. Por meio de intervenções poéticas, como saraus, grafites, vídeos, dentre outras formas de expressão, estão imprimindo um novo cenário nos locais mais distantes do centro da cidade.


Imagem de Leonardo Tatajuba
Imagem de Leonardo Tatajuba
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